Porque é importante para a empresa de legendagem CristBet que os espectadores entendam a génese dos processos de legendagem, e a sua complexidade, transcreve-se um excerto do livro da autoria e coordenação de Cristina Bettencourt sobre legendagem “Legendas e Narrativas”:
“Comecemos por salientar que até ao presente não tem havido uma grande preocupação em definir o que é, do ponto de vista linguístico, uma legenda, embora esta exista desde os princípios do século XX. Etimologicamente, a palavra deriva do latim legenda, «o que deve ser lido» (plural neutro do gerúndio de legere, «ler»).
Em Portugal, um dos métodos mais difundidos para a tradução de filmes é a legendagem, que consiste em inserir no filme a tradução/adaptação escrita dos diálogos, respeitando a velocidade de elocução e com um máximo de sincronismo. O seu processo de produção, como se verá em capítulo próprio, consiste na divisão de sequências verbais com o intuito de reduzi-las a uma ou duas linhas curtas de forma a constituírem um bloco fácil de ser lido e compreendido. Para tal, o tradutor terá que trabalhar na transcrição de diálogos (ou monólogos) a fim de reproduzi-los na língua de destino, de modo que fiquem coordenados e em sequência.
Assim sendo, pode dizer-se que a legenda é um dos elos de comunicação entre o filme e o público; transmite por escrito algo que foi inicialmente falado, é a tradução escrita da fala que acompanha a imagem e é ela própria também um elemento visual, pois consiste na impressão de um texto escrito na imagem.
O facto de aqui estar em causa um processo de transformação da fala para a escrita é fulcral, pois a fala quando transcrita literalmente não é legível, dada a diferente organização do discurso falado e da escrita. Em linhas gerais, há que salientar que a escrita possui as suas marcas próprias referentes à legibilidade do texto, onde as frases se ordenam segundo normas e regras mais rígidas, enquanto que a fala, com as suas pausas, reiterações, hesitações, omissões, etc., se transcrita sem reformulações, tornaria os enunciados de difícil compreensão. As operações de transformação da fala para a escrita tratam os enunciados tendo isto em conta, procurando que o texto escrito seja inteligível.
Ora, se se considerar a legenda nesta perspetiva, facilmente se compreenderá que o processo que envolve a legendagem é um pouco mais complexo, pois a sua composição passa por um processo linguístico com mais etapas, até chegar à sua forma final, a saber:
1. O filme é escrito ou adaptado por um guionista, pelo que na sua génese está um guião;
2. Os diálogos/falas do guião são decorados por atores, que os reproduzem oralmente; nesse processo frequentemente modificam algumas coisas, em função da sua criatividade, talento e indicações do realizador;
3. O tradutor traduz esse enunciado oral sob a forma de legendas, recorrendo ao guião escrito e ao seu confronto com os diálogos do filme; neste processo usa a sua criatividade e domínio linguístico.
Assim sendo, temos um texto escrito de base (guião), que se transforma num enunciado oral (fala/representação do ator), para se transformar de novo num texto escrito traduzido (a legenda).
O que ressalta deste processo é a grande complexidade de procedimentos linguísticos que estão em jogo: na transição da escrita para a fala e depois para a tradução escrita existem vários ajustes, para chegar a um produto final claro e legível. Para além de tudo isto, é ainda necessário que o tradutor siga as regras técnicas impostas pelos programas de legendagem que utiliza, que implicam que a legenda jogue com a relação tempo/espaço em simultâneo (o tempo cronometrado em segundos e o espaço medido pela quantidade máxima de caracteres permitidos por linha). Também estas técnicas de legendagem, assim como os serviços de legendagem e as tarefas a executar pelo tradutor, são abordados em capítulo próprio, pelo que não se aprofundarão mais de momento.
Voltando de novos às legendas propriamente ditas, vejam-se quais as estratégias mais comummente utilizadas pelos tradutores de audiovisuais para efetuar uma tradução, ou seja, para transferir significados de um código linguístico para outro.
Uma das opções é a tradução palavra-por-palavra, na qual se mantêm as mesmas categorias na mesma ordem sintática, na passagem da língua original para a língua de tradução, recorrendo a palavras semanticamente idênticas. Por exemplo, e usando a língua inglesa como referência, dado ser a mais frequente neste tipo de atividade:
- Legenda original (LO) – He said that the girl was wonderful.
- Legenda traduzida (LT) – Ele disse que a rapariga era maravilhosa.
Como se poderá facilmente verificar, esta estratégia não pode ser utilizada frequentemente, quer pela impossibilidade de efetuar sempre estas correspondências sintáticas pela mesma ordem, quer pelas especificações técnicas dos programas de legendagem anteriormente referidas (o número de caracteres da frase em português é quase sempre muito superior ao da frase em inglês).
Outra opção é a tradução literal, ou seja, traduzir mantendo a fidelidade semântica, mas adequando a morfossintaxe da legenda original (LO) às normas gramaticais da legenda traduzida (LT). É, portanto, essa adequação que permite distinguir a tradução palavra-por-palavra da tradução literal. Veja-se o seguinte exemplo:
- Legenda original (LO) – It was late when he arrived.
- Legenda traduzida (LT) – Era tarde quando ele chegou.
É igualmente comum o processo de tradução por transposição, no qual se opta por traduzir uma frase ou segmento frásico alterando a classe gramatical dos elementos que os constituem. Veja-se um exemplo:
- Legenda Original (LO) – She said apologetically (advérbio)
- Legenda Traduzida (LT) – Ela disse, desculpando-se (verbo reflexo)/ Ela disse, como justificação (adjunto adverbial)
Mas talvez o processo utilizado com maior frequência seja a tradução por paráfrase, que consiste em reproduzir a mensagem da legenda original (LO) na legenda traduzida (LT), transmitindo a mesma mensagem por outras palavras.
Por um lado, tal reflete uma diferença no modo como as línguas interpretam o real e, por outro, é consequência das normas que o tradutor tem de seguir para não ultrapassar os limites de espaço e tempo de leitura permitidos, tendo por isso que reestruturar e/ou adaptar a legenda. Por exemplo, o verbo «to love» na legenda original (LO) pode ser traduzido na legenda traduzida (LT) como «amar» ou «gostar», em função do contexto em que surge enquadrado ou a expressão «to fall in love» como «apaixonar-se».
A tradução por equivalência baseia-se numa estratégia semelhante: não traduz literalmente, antes substitui a expressão da legenda original (LO) por outra que seja funcionalmente equivalente na legenda traduzida (LT). É muito frequente usar-se este procedimento, por exemplo, em relação às expressões idiomáticas, provérbios, ditados populares e lugares-comuns:
- Legenda Original (LO) – It’s raining cats and dogs.
- Legenda Traduzida (LT) – Chove a cântaros.
- Legenda Original (LO) – It’s a piece of cake!
- Legenda Traduzida (LT) – É canja!
- Legenda Original (LO) – Yours faithfully
- Legenda Traduzida (LT) – Atentamente, cordialmente
Há ainda que ter em conta a omissão, que é igualmente uma estratégia de tradução, assim como o seu contrário, a explicitação. No primeiro caso, omitem-se elementos da legenda original (LO) que são desnecessários e repetitivos na legenda traduzida (LT) – é o que se verifica na tradução do inglês para o português, no caso dos pronomes pessoais. No português, as desinências verbais explicitam a que pessoa se refere o verbo e por isso, não é necessário o pronome pessoal na posição de sujeito, que no entanto é obrigatório no inglês:
- Legenda Original (LO) – You make me feel so good!
- Legenda Traduzida (LT) – (tu) Fazes-me sentir…
O processo inverso, a explicitação, ocorre quando se traduz do português para o inglês, pelos motivos já apresentados.
Note-se ainda que este tipo de trabalho implica a reconstrução, que se consubstancia na redivisão e reagrupamento dos períodos e orações da legenda original (LO) ao traduzi-los para a legenda traduzida (LT); implica efetuar melhoramentos, não repetindo eventuais erros detetados no original; implica a transferência, que consiste na introdução de material textual da legenda original (LO) na legenda traduzida (LT) (estrangeirismos) e ainda a explicação, que pode ser a eliminação de um estrangeirismo e a sua substituição pela respetiva explicação ou mesmo a manutenção do estrangeirismo, seguido da sua explicitação entre parênteses.
Estas são apenas algumas considerações sobre a enorme complexidade do trabalho que a CristBet efetua todos os dias há quase um quarto de século.
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